A didática de 1659 e a política de 2018

A didática de 1659 e a política de 2018


   O mestre Paulo Freire (1999), que felizmente ainda é o patrono da Educação brasileira, já dizia que:

            “A educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem. Não pode temer o debate. A análise da realidade. Não pode fugir à discussão criadora, sob pena de ser uma farsa.”


   Portanto, hoje, nas leituras sobre Comênico, o "pai da Didática" não pude deixar de relacionar com o momento político atual, que ficará marcado na história do nosso país e sobre o qual muito falaremos (ou não, se tentarem nos calar). 


   Com relação à vida e obra de Comênico eu destacaria muitas coisas. Foi, certamente um homem à frente de seu tempo, com uma visão altruísta, que vislumbrava o princípio da igualdade, “sonhando” que todos tivessem a oportunidade de acessar os estudos, e neste sentido, no atual momento histórico de nosso país não podia deixar de comparar com os ideais do ex Presidente Lula, inclusive nas questões que dizem respeito ao exílio. Claro que o “todos” de Comênico não é o mesmo “todos e todas” de Lula e isso veremos logo abaixo. O autor também queria que aprendessem com prazer, que os fundamentos da aprendizagem viessem da natureza, ou, em outras palavras, do que estivesse próximo dos estudantes, assim como Freire trouxe sempre em sua vasta obra, mostrando a utilidade do aprender, aprender para ser, conhecer, fazer. O professor deveria, para Comênico “ensinar menos”, ou seja, deixar de ser o foco e ser o mediador, sentindo assim como o estudante prazer em seu papel. 

   O sujeito aluno precisa ser considerado, segundo o pai da didática e não consigo entender como tantos colegas desmerecem esta afirmação, essa consideração é construída, a meu ver, num primeiro momento com bom relacionamento professor-aluno. 

   Claro que também discordo de algumas colocações, em especial, mais uma vez, percebo o quanto as disputas religiosas prevalecem ante ao social. Isso continua preocupante, principalmente em tempos onde nossa política passa a ser dirigida por bancadas evangélicas. 

   Outro ponto que me chamou atenção é um item do índice de “Didática Magna”: 

                              “A formação do homem faz-se com muita facilidade na primeira idade, e chego a dizer que não pode fazer-se senão nessa idade”. 
           


   Discordo, pois exemplo de que o ser humano aprende em qualquer tempo de sua vida são as turmas de EJA. Mas isto, levando em consideração o período e contexto histórico social só mostra o quanto evoluímos pouco neste aspecto, já que atualmente temos políticos que também pensam ser “desnecessárias” as turmas da Educação de Jovens e Adultos e tem feito de tudo para acabar com esta modalidade. 


   Com relação ao ocorrido, à prisão do ex-presidente Lula eu posso afirmar que me sinto extremamente triste, pois tive a oportunidade, enquanto educadora de trabalhar e conhecer de perto inúmeros programas pertencentes às políticas públicas que visavam a igualdade de direitos construídas no governo PT. Vivenciar isso me fez perceber que este é o sonho que quero seguir, diminuindo a distância entre o que dizemos e fazemos, conforme Freire nos ensinou. Não posso não manifestar meu posicionamento político, pois educar é um ato político e a intenção do meu continuará, mesmo com Lula preso, sendo a de formar pessoas capazes de buscar um mundo mais justo e fraterno.



Referências:

COMÉNIO, João Amós. Didácta Magna: tratado da arte de ensinar tudo a todos. 4. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1996. 525 p.

DOLL, Johannes; ROSA, Russel Teresinha Dutra da. A metodologia tem história. In: _______ (orgs.). Metodologia de Ensino em Foco: práticas e reflexões. Porto Alegre: UFRGS, 2004, p.26-29


FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 23ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999.



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