As aprendizagens que as trocas entre Conselheiros trazem

As aprendizagens que as trocas entre Conselheiros trazem


Explanação sobre a participação da Conselheira Lucinéia Happeck no Encontro Estadual da UNCME (União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação) realizado nos dias 20 e 21 de Novembro em São Leopoldo:

Os dois dias de encontro foram bastante produtivos, esclarecedores e compartilho com as demais conselheiras e colegas professores, aos quais represento no CME, os apontamentos que fiz, claro que contêm minha reflexão pessoal.

Cito a Coordenadora Estadual Fabiane Bitello durante suas colocações “Quando tiramos a autonomia de uma escola, calamos um país”. Refere-se a várias situações que estão, neste momento histórico do nosso país, apontando justamente para nosso chão, a escola. O MEC já anunciou cortes para o custeio de metas do Plano Nacional de Educação (PNE), o que faz com que os municípios tenham que arcar sozinhos, isso, por sua vez é praticamente impossível e desta forma, as metas não serão cumpridas. Citou o Decreto de Contingenciamento, que nada mais é do que o detalhamento dos cortes feitos pelo Governo Federal.

A fala do professor André Lemes, secretário de Educação de Rio Grande e Presidente da UNDIME (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação) - RS, foi corroborativa em relação ao parágrafo anterior e trouxe outro ponto importante sobre o qual devemos nos preparar, as tentativas de criminalização da profissão do professor, que se dá, por exemplo, através de proposições como às relacionadas com a “Lei da Mordaça”. Utilizou comparativos, uma vez que nunca viu legisladores querendo condenar advogados que defendem o indefensável, ou engenheiros que constroem prédios públicos e esquecem da calçada acessível. Trouxe um dado importante, de que o presidente Temer cortou 98% dos investimentos em Assistência Social, perguntando então, que país teremos em dez anos? O avanço do ódio, do preconceito e da intolerância é assustador, a submissão a que  o Brasil está se enquadrando é séria e que neste momento é tempo de RESISTÊNCIA, resistência persistente para que esta se transforme em MOBILIZAÇÃO. Colocou uma frase contundente “Ninguém vai calar o direito de exercer a profissão que escolhemos”.  A democracia deve ser vista como elemento fundante das relações sociais mais fraternas.

A primeira mesa trouxe a temática da Garantia do Direito à Educação: Monitorando o PNE. Com representações do Conselho Nacional de Educação, Universidade Federal do RS, UNDIME, Conselho Estadual de Educação, Coordenação da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, esta mesa foi esclarecedora, contundente e provocativa. Precisamos compreender o momento que estamos vivendo, tendo clareza sobre a movimentação do capital internacional em diversos setores e em especial na Educação. A distribuição da renda está cada vez mais próxima de dados de um passado não muito distante, herança da tradição escravocrata e de um estado patrimonial, mais uma vez ressalto a importância da luta pela democracia, pois professores calados comprometem o futuro.

Tivemos a colocação sobre a Base Nacional Curricular Comum (BNCC), que neste momento se encontra no CNE, e que, se aprovada como está terá impacto sobre a formação de professores, avaliação e gestão. Sabemos que as pessoas têm diferentes visões, de emancipação, de controle, se a base for aprovada num formato “apolítico” teremos sérias dificuldades, pois a autonomia dos professores, por exemplo, será reduzida de forma significativa. Base é o início e não o fim do processo. O resgate histórico social antes da BMCC é necessário. Pós LDBEN tivemos os parâmetros curriculares nacionais elaborados pelo CNe sem caráter obrigatório, depois tivemos as diretrizes curriculares que iluminam, mas não aprisionam em relação à unidade na diversidade. E temos um questionamento, as diretrizes já chegaram às escolas? Elas fazem parte do PPP? Dos currículos? A BNCC não é currículo, os currículos deveriam ser elaborados pela escola, baseado no PPP da escola. Então, as diretrizes deveriam estar na base. A BNCC como está apresentada afeta princípios básicos da Educação já constituídos, caberá ao CME fazer a normatização da Base.

O Estado tem o dever de garantir a Educação, e a criação de um Sistema Nacional de Educação seria uma alternativa para a garantia das políticas públicas, mas como concretizar isso sem dinheiro? O PNE é orgânico, uma coisa depende da outra e a meta 20 é a que vai viabilizar as outras. O CAQi (Custo Aluno Qualidade Inicial) também é um instrumento importante de aporte de recursos para investimento e ele traduz em valores o quanto o Brasil precisa investir por aluno ao ano, em cada etapa e modalidade da educação básica pública, para garantir, ao menos, um padrão mínimo de qualidade do ensino. Já o Fundeb (Fundo da Educação Básica) ficou fora da Emenda Constitucional nº 95, ou seja, não há um teto para a completamentação, o que permitiria, através do “novo” Fundeb a implementação do CAQi, assim a União entraria com mais 50% do montante do Fundeb. A PEC (Proposta de Emenda Constitucional)15/2015 vai regulamentar o FUNDEB, precisamos nos apropriar acerca deste assunto

Sobre os índices (Enem, IDEB, etc) o que se percebe ao longo da realização destes é que não necessariamente refletem a questão da qualidade, pois muitas vezes temos alunos mecanicamente prontos, mas sem a aprendizagem efetiva e significativa. Os bons resultados deveriam ser consequência e não causa da educação de qualidade, o que se busca hoje, infelizmente são bons índices, e não aprendizagem.

O regime de colaboração entre os entes, depende de modo geral de vontade política para sua discussão e efetivação.

Refletindo sobre o papel do CME temos:




A retomada das funções do conselho é fundamental em alguns momentos, são as paradas necessárias para percebermos nosso papel. O CME só é normativo se for Sistema, tem o caráter propositivo, ou seja, propor soluções para o município, em seu aspecto consultivo pode tanto ser consultado, como consultar, solicitando esclarecimentos. Precisa deliberar, ou seja, tomar posicionamento, fiscalizar a Educação NO município e não DO município. Por fim, mas não menos importante é papel do CME mobilizar e temos logo em 2018 um grande desafio, a Conferência Nacional de Educação. O que estamos vendo é uma falta de iniciativa dos governos em realizar as etapas municipal e estadual e cabe ao CME fomentar através de sua participação no Fórum Municipal de Educação. É tarefa do Fórum, por exemplo, a realização de uma Conferência.

O CME só se fundamenta como órgão representativo se a intencionalidade entre seus membros é a mesma, ou seja, se os objetivos são comuns. Fatores como coerência, unidade, organização e articulação tornam o CME dinâmico. A primeira e mais importante função do conselho é zelar pela aprendizagem do aluno.

Destacou-se como elemento que possibilitaria o funcionamento efetivo do Sistema a criação de um Fundo Municipal, como política de financiamento público na Educação pública.

Apresentou-se também, no encontro uma proposta de Fórum Ampliado dos Conselhos e algumas falas sobre PPP e Regimento abrilhantaram a discussão.

É importante, enquanto conselheiras e educadoras que possamos de fato conhecer o sentido dos conceitos sobre sexo, sexualidade e gênero, pois somente assim estaremos preparadas para promover e participar de discussões sobre o tema, que certamente virão e sobre as quais o conselho deverá se posicionar.


É preciso trabalhar a questão da intolerância, do retrocesso, não podemos perder de vista a luta pela garantia dos direitos a todos e a cada um. Não devemos perder a interlocução, a capacidade de dialogar, de discutir ideias e argumentar. Que nada nos diferencie para nos distanciar, que as diferenças nos aproximem e permitam lutar por um país melhor. Temos de olhar para o território e não apenas a rede enquanto espaço de pertencimento.

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