Reescrita de O Fotógrafo – Manoel de Barros - – Manoel de Barros, em “Ensaios fotográficos”. Rio de Janeiro: Editora Record, 2000.
A escola
Difícil fotografar a escola.
Entretanto tentei. Eu conto:
Férias, o silêncio tomava conta, quase nunca era assim.
Não se ouvia um barulho, nenhuma criança gritava.
Eu estava entrando na biblioteca.
Eram quase três da tarde.
Biblioteca vazia, muitas vozes gritando, nenhuma sendo ouvida.
Preparei meu celular.
O objetivo era explorar
Parte da história recuperar.
Fotografei o professor.
Aquele que arriscou e investiu em educação.
Quando não se tinha nada, nem mesmo ilusão
Tinha um cheiro de saudade, histórias e memórias.
Fotografei os projetos, sonhos de um novo cidadão
Vi uma logo que não era nova, identificação .
Eu achava que conhecia.
A história da escola.
Fotografei o mosaico.
Mistura de vidas, personagens desencontrados de grande valia.
A rua, o vento, o ar.
Falta ainda muita coisa neste lugar.
Mas me vi.
Ali estava eu a fazer parte
do coração de uma escola.
Que bate num ritmo diferente.
Do sorriso, do agito, das vozes de todos
o silêncio não combina com o lugar
Quando as crianças estiverem
Aí sim eu quero voltar.
Lucinéia E. Happeck
Registros
fotográficos são partes de memória eternizadas, são a forma de manter nossa
estada neste plano, assim como nossas escritas, são o legado para o mundo. Nem todo
registro é comprovante de memória, pois como já visto em Moran (2002) a memória
que é fonte de verdades pode estar sujeita a erros e ilusões, pois acaba sendo
seletiva. Tem validade de acordo com a importância da mensagem que trazem sob o
olhar de quem as vê. O silêncio da contracultura é o silêncio à subversão da
memória oficial. A tentativa de se ausentar das marcas das narrativas é o
silêncio da contracultura, é a forma utilizada para expressar seu
posicionamento diante do mundo.
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