Aula Magna - Nuccio Ordine

Aula Magna - Nuccio Ordine




     

O professor Ordine, autor do livro "A utilidade do inútil", traz em sua fala pontos  contundentes. Afirma e comprova que existem saberes "inúteis" que são indispensáveis ao desenvolvimento da humanidade e muitos destes saberes são considerados inúteis sob a ótica do culto da posse, onde o lucro é a prioridade de uma sociedade que aos poucos está acabando com seu espírito.
Segundo Ordine, os estudantes não podem ser considerados clientes que compram diplomas. O objetivo da Universidade e da Escola é fazer com que os alunos compreendam que não estamos lá para conseguir um diploma. Estes ambientes são a oportunidade que a sociedade nos oferece para que busquemos nos tornar melhores.
     Nestes locais podemos e devemos:

    • Conquistar o saber crítico;
    • Nos tornarmos homens ou mulheres livres;
    • Pensar de forma autônoma.
 Na fala, há a crítica da busca pelo título acadêmico, o destaque de que a culpa disto não é apenas dos alunos, mas também do contexto social, contra a lógica utilitarista que impõe ganho material. Não há na sociedade, dentro da nossa cultura, a possibilidade de fazer algo simplesmente por prazer. O domínio da maximização do lucro se sobrepõe, o lucro é salutar apenas quando é um meio e não um fim.
     O lucro pelo lucro pode ser um instrumento de destruição da civilização e é, a meu ver, impossível não levar esta reflexão para o atual momento político social, onde a possibilidade da perda do "lucro" de uma minoria, pode levar nosso país a reviver um dos piores momentos históricos que já tivemos, a negação do estado democrático de direito.
     Reflete também o conferencista sobre a pergunta " Pra que serve?" quando colocada diante de coisas simples. Utiliza Aristóteles  para embasar a resposta de que algumas coisas não servem, não estão a serviço de ninguém, estão apenas indicando caminhos para a liberdade. 
    Nem tudo pode ser transformado em mercadoria. O utilitarismo traz sérios danos à Educação, Bens Culturais e Pesquisa Científica. Hoje, o foco é a preparação para o trabalho e assim, deixando de lado as artes e a cultura de modo geral, logo a humanidade perderá sua própria história. Sabemos que a linguagem nunca é neutra, ao deixar de estudar coisas consideradas "inúteis" nos limitaremos aos "créditos e débitos" termos usados na universidade e que não por acaso tem relação com a questão do lucro.
     Temos que ter em mente que o caminho é mais importante que o resultado final. Aquilo que construímos na escola ou na universidade é mais importante que o título em si. Ainda há muito que mudar, que retomar, basta ver o olhar dado aos projetos universitários, aqueles que resultam em "produto" são alvo de investimentos, enquanto àqueles que buscam mudanças subjetivas, de atitudes, comportamentos ou mesmo espirituais, ficam à espera de quem acredite nele.
     Há a crítica aos parâmetros econômicos, utilizados em questões humanísticas. Não temos como não relacionar esta crítica com a Educação. Estamos vivendo um momento em que o resultado de uma boa educação se vê apenas através do número de alunos aprovados em vestibular, por exemplo, sem se preocupar de fato com os conhecimentos adquiridos ou com as possíveis mudanças sociais ocorridas através da aquisição de um determinado conhecimento. Se não há um conhecimento prático específico pode haver uma utilidade inesperada em algo e isso podemos vivenciar ao observar nossos alunos e tentar também aprender com eles, reconhecendo e valorizando os conhecimentos que eles trazem, ou seja, valorizar suas realidades.
     Quando coloca a questão dos recursos, Ordine nos fala o que não nos é novo, o corte de recursos, quando o governo entende como necessário se dá em áreas como Educação e Cultura. Enfatiza a defesa dos saberes "inúteis" ou seja, aqueles que não trazem lucro, mas tornam a humanidade mais Humana. 
     Ao falar sobre DEMOCRACIA, LIBERDADE E JUSTIÇA, não posso deixar de relacionar mais uma vez com o contexto político social. O professor fala sobre o uso da Cultura e da Educação como caminhos para as três palavras destacadas, e é o que tenho visto, quanto mais utilitarista é a pessoa, mais dificuldade ela tem de reconhecer os conceitos que definem estas palavras. Penso que a luta contra a corrupção é justa e deve ser buscada em todos os âmbitos, mas não consigo compreender que a justiça seja feita apenas em um lado, contra um grupo e que a elite que visa o lucro seja invisibilizada, que os erros cometidos por alguns sejam esquecidos ou vistos como menores. Penso então que a DEMOCRACIA deve prevalecer, que nossa LIBERDADE de pensamento e expressão não corra nenhum risco e que a JUSTIÇA deve ser feita, de forma realmente imparcial e para TODOS os envolvidos no que se refere à corrupção, seja de qual partido for.

     



  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

2 comentários:

Simone disse...

Enquanto aluna de uma Universidade Pública, graduanda de um curso voltado para um público específico, com metodologia e assessoria diferenciadas, poderíamos afirmar que esta situação vai na contramão dos "saberes inúteis"?

Lu Happeck disse...

Com certeza, ao estar em uma Universidade pública de qualidade sou uma privilegiada, neste espaço todos os nossos saberes são valorizados, aprendemos mutuamente, colegas, professores e tutores, não há saberes inúteis...

Postar um comentário