LEITURA DO COLETIVO: VALORIZAÇÃO DO CONHECIMENTO DOS COLETIVOS POPULARES.
A realidade onde está inserida minha escola é de um coletivo que até poucos anos atrás se permitia ser subjugado pelos veranistas, aceitando o apelido pejorativo de marisqueiros, mas que como nos traz Arroyo (2006), este coletivo começou a reagir ao silenciamento imposto por uma classe que vinha apenas no período de verão e passou a utilizar, por exemplo, o termo marisqueiro como identidade e coletivo. Não são organizados em movimentos sociais, mas buscam ações conjuntas para a emancipação deste coletivo, sendo uma delas a apropriação do espaço do litoral como de todos, exigindo o respeito que as pessoas que vem para este lugar tem com os seus próprios espaços de permanência durante o restante do ano.
O conhecimento deste coletivo vem sendo valorizado, pois, muitas vezes presencio veranistas solicitando a moradores auxílio para a resolução de problemas típicos litorâneos, relacionados à fauna e flora local.
Muito se percebia do que Arroyo diz:
“As categorias mais freqüentes com que são vistos, sobretudo no pensamento sócio-pedagógico tem sido: marginalizados, excluídos, desiguais, inconscientes.” (2003, p.5)
Inclusive na escola, que utiliza os valores e conceitos da “cidade grande”, tentando preparar os alunos para subservir aos veranistas e desta forma agradá-los, os jovens moradores (marisqueiros) se viam como desiguais, distantes dos jovens que veraneavam na praia. Isso vem sendo modificado com a formação pedagógica constante que faz com que os educadores percebam a necessidade de valorizar o conhecimento do lugar, reconhecendo as experiências e a bagagem cultural local. Assim, hoje trabalha-se a questão ambiental de forma a fazer com que os marisqueiros cobrem dos veranistas o respeito ao nosso espaço, a cultura local é valorizada e não são mais inconscientes de seus próprios saberes. Exemplo disso é o curta “As
lavadeiras” vencedor de prêmio em categoria nacional e que traz apenas aspectos da cidade. Nossos jovens se apropriam de conhecimentos diversos que lhes permite igualdade diante dos jovens da “cidade”.
Claro que ainda existe a exclusão, ainda existe a marginalização, seria ilusória afirmar que as mudanças foram tão intensas, mas para mim que vim da “cidade” para o litoral há vinte anos, é perceptível que a passos lentos, porém persistentes estamos começando a vislumbrar o respeito aos coletivos diversos.
Referências:
ARROYO, Miguel G. Ações coletivas e conhecimentos: outras pedagogias? 2006.
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